quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Despedida

porkypig
Há quase 3 anos atrás, quando eu lecionava Língua Portuguesa no turno matutino de nossa escola, o Estado publicou uma portaria anunciando mais um projeto da Secretaria de Educação, o trio gestor. Os colegas na sala de professores começaram a especular quem poderia ser, o que poderia fazer e muitos estavam entendendo que a função seria parecida com a de um chefe de disciplina, alguém para silenciar os corredores e ficar andando atrás de alunos levados. Sem ler a proposta, neguei de cara o meu interesse. Então aconteceu um episódio trágico.
Assassinaram covardemente uma de nossas alunas. Foi horrível para todos os que com ela conviviam. Junto com seus colegas de turma e amigos eu fui para a casa dela e fiquei lá aguardando pelo corpo durante um bom tempo. Naquela tarde, a diretora Edimar também esteve lá e conversou comigo sobre a proposta do trio gestor. Em seu modo de entender, a escola precisava de alguém que se preocupasse com os alunos e soubesse conversar com eles, entre outras coisas. Ela disse que eu tinha esse perfil e que eu deveria me candidatar, junto ao conselho de escola. Disse a ela então que iria pensar no assunto.
Resolvi me inteirar da proposta e percebi que a função tinha muito a ver com experiências anteriores que eu havia vivenciado e com minha vocação pessoal. Orei a respeito, e decidi concorrer à vaga. Fui classificado em primeiro lugar na prova e em maio de 2009 iniciei na gestão.
Nesta semana estou saindo dessa função, juntamente com os outros poucos gestores que restaram. O Estado encerrou o projeto do governo anterior com um certo sabor de “não deu certo”. Das mais de 70 escolas da nossa superintendência, apenas 3 continuam com gestores. Financeiramente, não foi algo vantajoso para um gestor continuar no cargo (ganha-se mais na sala de aula com a mesma carga horária e menos problemas); por isso a grande maioria saiu antes do tempo do projeto encerrar.
Tenho consciência de que não fiz tudo o que sonhei fazer. Mas tenho certeza que fiz com dedicação tudo o que me foi colocado a mão para ser feito. O trabalho do gestor não é um trabalho que aparece, normalmente estou do lado de cá da câmera (como em tantas fotos do blog da escola). Mas estou satisfeito por ter conseguido influenciar a vida de tantos adolescentes em situações as vezes tão complicadas. Em algumas situações era meu dever informar o conselho tutelar. Em muitas outras, era meu dever não contar nem aos pais, nem aos meus colegas...
Servi às famílias e comunidade com dedicação e saio sabendo que a escola que temos hoje é muito melhor do que quando entrei. Não graças a mim, mas graças ao trabalho de toda a nossa equipe. Juntos superamos situações de crise e temos sido referência para as escolas do Estado.
Agradeço a Deus pela oportunidade, direção e cuidado durante todo esse período; a minha família e minha igreja que me apoiaram em todo o tempo e me sustentaram em oração; aos colegas professores, coordenadores e pedagogos pela parceria e paciência; a cada funcionário da escola, nossos vigilantes, soldado Moreto, serventes, e equipe de secretaria. Não teríamos alcançado tantas vitórias se não fosse o comprometimento de cada um de vocês.
Agradeço a nossa ex-diretora Edimar pelo convite e confiança. Agradeço de forma muito especial à nossa diretora Andréa, por ter me acolhido como companheiro de batalha, por ter confiado e acreditado no meu trabalho. Tenho convicção de que sua vinda para nossa escola foi resposta às orações daqueles que realmente se preocupam com ela. O resultado da sua gestão tem confirmado isso a cada dia.
Estou voltando para a sala de aula. Meu pedido é que nunca deixem de acreditar na nossa escola. Ela foi noticiada na mídia por duas vezes como uma das melhores do Estado. Mas ainda temos muito pela frente para alcançar a excelência no ensino.
Encerro esse post com dois vídeos de retrospectiva, quando nossa escola foi tema de reportagens da rede Gazeta: